Capítulo 10 - Ana e Wirsung

Procurando localizar Lovat-Erin, Wirsung descobre Ana, sua colega de profissão, exercendo no Barreiro, e com ela se encontra no Centro de Saúde de Setúbal.
Há alguns anos tinha escolhido esta cidade para morar, pelas semelhanças que lembravam outra, essa situada na plena pampa do Rio Grande do Sul. Esta é um pouco mais líquida, rodeada de azuis e areias, quase plana aos pés de castelos, o de Palmela sobre as alturas, ao lado deitada a plácida Arrábida de manto verde antigo e rasgado, banhado no verde renovado e claro com golfinhos. Afinal tão diferente da outra, gaúcha, muito plana e espalhada, sem encostas envolventes nem castelos, apenas húmida de charcos e lagoas, com cheiro de infância sobre cavalos em pêlo.
Se tão diversas, como associadas no espírito, por que paradoxal sentido o ar que nelas circula tem para Wirsung o mesmo sabor? Talvez o cheiro da beira do cais, esta de tons de maresia, aquela em aromas de couro molhado entre margens fluviais, a memória da liquidez das primeiras descobertas, dos segredos revelados, dos sentidos despertados.
Ana, natural de Angola, de rosto lúcido e quente, era bem como a tinha imaginado, sobre o som da voz de Lovat-Erin.
Falaram, naturalmente, das suas experiências, convergentes na diferença, como as cidades, Lisboa e Luanda, englobadas de triangulações de terras quentes - Brasil, Angola e Alentejo, 'Urbi et Orbe' de gentes, do movimento popular de libertação, de sonho e esperança.
Da alegria, ingenuidade e reacção, de canduras perdidas e precocidades desejadas.

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