Capítulo 22 – A Escrita

Naquele dia, os amigos debatiam as suas diferentes concepções da escrita:
Wirsung analiticamente iniciou:
- É verdade que por vezes questionamos o valor do que escrevemos, indagando-nos da força destes comprimidos de pensamento, do seu conteúdo em miligramas de entendimento. Desejando escrever algo de definitivo, imaginamos ilusoriamente transformar, principiar algo de novo. Assim, a escrita poderá, apenas, ser a materialização dos sonhos imperfeitos – notem que resisto à tentação de dizer “sempre”…
Álvaro Urbano, muito sucinto e minimalista, resumiu:
- É coisa fugaz e irremediável, portanto histórica.
Ana receitou, da sua experiência de vida:
- Titubeando no mundo do Intervalo, o ideal é deixar solta a Imaginação, deixar correr livre a palavra, escrever “em bruto”, directo a seguir ao pensamento.
Luciana criticamente pincelou:
- Circular pelos traços das avenidas literárias, cercadas nos campos da visão estreita dos “ismos” da moda, em escrita linear e fechada num só plano, é cavar o fosso dos intelectuais-intelectualistas, a quem o povo nunca dará o seu entendimento.
Domingos trouxe da bancada o exemplo:
- É como madeira trabalhada, pronta a ser olhada, tocada e cheirada, antes de ser arte ou utilidade.
Henrique, de olhos líquidos:
- No fulgor da palavra pura, deixamos fixar o nosso pasmo de encantamento.
Luís, de olhar iluminado:
- Na poesia da brevidade, deixamos correr o fluxo vivo de quotidianos inexplicados.

1 comentário:

Gira Angola disse...

Valeu lindo texto.
Força